A Bíblia nos adverte: "Filhinhos, guardai-vos dos ídolos". (1 João 5:21) Essa advertência final, que parece surgir sem conexão com o corpo da carta de João, revela a importância de entendermos o pecado da idolatria. Ele não se limita ao passado. É um perigo constante na vida de todo cristão.
Para a igreja primitiva, o mundo era um altar de ídolos. O Estado era adorado, as imagens do imperador eram veneradas, e o panteão de deuses gregos e romanos dominava a vida cotidiana. Converter-se a Cristo significava abandonar uma cultura mergulhada em idolatria.
No entanto, mesmo com a fé em Cristo, a idolatria continua a ser uma ameaça. A pergunta que nos assombra é: como cristãos genuínos podemos cair nesse pecado novamente?
O pecado da idolatria se origina de uma profunda necessidade humana - a busca por completude e satisfação. A falta de algo se torna um vazio que tentamos preencher com objetos de desejo, buscando prazer, reconhecimento, poder e segurança.
Imagine o Éden. O homem não tinha falta de nada. Mesmo assim, ele arriscou sua plena comunhão com Deus por algo que lhe foi vedado. Essa busca por completude, em sua forma original e pura, era a forma como Deus havia planejado que o homem vivesse. Nós viveríamos eternamente buscando nos preencher da revelação diária de quem Deus é.
Mas, a nossa natureza pecaminosa corrompeu esse anseio. A busca por algo que preencha o vazio do nosso coração se tornou, desde a Queda, uma força obsessiva, uma necessidade que nos leva a buscar satisfação em coisas que não podem nos dar o que realmente precisamos. Nascemos sentindo que nos falta algo, mas o pecado nos impede de ver que esse algo é o Deus verdadeiro, que perdemos.
Um ídolo é tudo aquilo que colocamos no lugar de Deus como fonte de prazer e satisfação plena. Ele assume o lugar que deveria pertencer somente a Deus, tornando-se o centro das nossas vidas, dos nossos desejos, das nossas buscas.
A idolatria é a dedicação que damos a esse ídolo. É viver em busca de conhecer, servir e agradar esse falso deus, gastando nosso tempo, dinheiro, talentos, energia e até mesmo nossa alma em torno dele.
A palavra grega usada na Bíblia para "idolatria" é "eidōlolatreia", que se origina de "eidōlon" - aquilo que salta aos olhos, que se apresenta como uma aparência exterior.
Em seu sentido mais amplo, a idolatria se refere à adoração de ídolos, imagens e representações de deuses. Os antigos acreditavam que a imagem continha a divindade, ou a força sobrenatural, que representava.
Para os hebreus, a idolatria era adorar qualquer coisa que não fosse Yahweh, o único Deus verdadeiro. A idolatria era considerada um dos piores pecados, pois implicava em negar a revelação divina e destruir a base da fé e da moral.
No Novo Testamento, a idolatria assume um significado ainda mais amplo, referindo-se a tudo que possa ocupar o lugar de Deus em nossos corações.
O mandamento de Deus "Não terás outros deuses diante de mim" (Êxodo 20:3) expõe o coração do pecado da idolatria.
Deus não apenas nos proíbe de adorar outros deuses, Ele nos chama a reconhecê-lo como o Único Deus que nos tirou da escravidão do Egito. Ele não tolera que outros deuses sejam colocados ao lado Dele, pois isso ofende Sua honra e Sua soberania.
A idolatria é uma traição à nossa vocação como criaturas feitas à imagem de Deus. É negar nosso propósito, que é adorar e amar o Criador com todo o nosso ser.
A idolatria se manifesta em diversas formas em nossa cultura:
A secularização da igreja, que vem crescendo nos últimos séculos, representa uma nova forma de idolatria. É abandonar o Deus vivo e seguir regras e rituais sem significado espiritual, tornando a religião um mero ritualismo vazio.
Nós, cristãos evangélicos, também temos mascarado a idolatria em nossas vidas.
Onde gastamos nosso tempo, dinheiro, dons e talentos? Onde aplicamos nossa força, corpo, alma e entendimento?
A resposta a essas perguntas pode revelar quais ídolos dominam nossos corações.
Sim, é idolatria. A Bíblia nos adverte sobre os samaritanos que se relacionavam com Deus através de rituais que aprenderam, mas que estavam longe do coração de Deus. (2 Reis 17:25-34).
Adorar ídolos é adorar demônios, pois a idolatria é uma forma de se conectar com o mundo espiritual. Ídolos têm nomes, histórias, rituais e orações, porque aqueles que os adoram acreditam que existe alguém do outro lado, capaz de ouvir e responder. É o que diz a Palavra de Deus:
19 O que quero dizer com isto? Que o que é sacrificado ao ídolo é alguma coisa? Ou que o próprio ídolo tem algum valor?20 Não! Digo que as coisas que eles sacrificam são sacrificadas a demônios e não a Deus; e eu não quero que vocês estejam em comunhão com os demônios.21 Vocês não podem beber o cálice do Senhor e o cálice dos demônios; não podem ser participantes da mesa do Senhor e da mesa dos demônios. 1 Co 10:19-22
Deus é Espírito. A verdadeira adoração a Ele precisa ser feita de acordo com a Sua natureza e com Sua vontade, revelada na Bíblia.
Qualquer tentativa de adorar a Deus de forma diferente é idolatria. É preciso que busquemos conhecê-lo de forma profunda, amá-lo com todo o nosso coração e obedecer à Sua palavra.